segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Em Cena: Jônatas Andrade


Com o objetivo de oferecer conteúdos especiais a você caro leitor, o Diário de Cultura segue publicando entrevistas com pessoas que fazem acontecer na cultura local. Hoje o "Em Cena" traz um bate-papo com Jônatas Andrade, 24 anos, membro do Cine Clube Mossoró. Apaixonado pela sétima arte, Jônatas possui uma coleção de filmes dos mais variados gêneros.

Thiago Braga-Onde surgiu essa paixão pelo cinema?

Jônatas Andrade-Essa primeira questão talvez seja a mais difícil de se responder. Mais do que qualquer outra posterior. Não sei bem identificar quando a "paixão" pelo cinema surgiu em minha vida. Não consigo delimitar o ponto exato em que me olhei no espelho e disse: "Pronto, agora sou um cinéfilo", ou "Ok, o cinema é minha vida de agora em diante"... Posso garantir que foi algo que surgiu gradualmente, desde minha infância. Sempre vi muitos filmes na televisão, sempre gostei de ver muita tv em si. Fui um chamado "rato" de locadora. Depois, meu segundo emprego foi justamente em uma locadora, foi lá que o gosto pela sétima arte aprofundou-se, foi quando a coisa tomou gosto para valer. O meu senso crítico foi se aprimorando a medida que eu era, de certa forma" "obrigado" a assistir todos os tipos de filmes, justamente para poder indicar aos clientes os bons e não indicar os ruins. Comecei a colecionar revistas de cinema, a ler alguns poucos livros e visitar determinandos sites. Quando percebi já era algo maior que mim mesmo... tanto que já cheguei a escrever críticas cinematográficas, dirigi; produzi e roteirizei o meu primeiro curta (com um longa para ser feito) e estou dirigindo o Cineclube Mossoró até hoje. É uma pergunta que daria um livro, melhor ficar por aqui.

TB-Você tem ideia de quantos filmes já assistiu ao longo de sua vida?

JA-A ideia exata é impossível de dar pois nunca mantive um controle, a não ser em 2007, quando anotei todos os que vi, 375 ao todo nesse ano. Mas posso garantir que já vi mais de 10 mil obras cinematográficas, sem contar os curtas e médias-metragens.

TB-Das muitas produções de cinema qual a mais te marcou e porque?

JA-Bem, costumo dividir as produções que mais me marcaram por época, ou mesmo por tema. Costumo dizer, por exemplo, que para a minha adolescência o filme da minha vida será sempre "O CLUBE DOS CINCO", uma dramédia, do ano em que nasci, 1985. O filme retrata muito bem a fase escolar, as nossas descobertas, amizades, amores e laços que vamos formando que duram, ou não, a vida inteira. Nesse sentido, esse filme é um grande acerto pois seus personagens, cada um do seu jeito, é bem marcante. E me enxergo um pouco em cada deles. Para minha fase adulta, que ainda está em fase de crescimento, costumo destacar o filme "CLOSER - PERTO DEMAIS". O filme é como se os personagens de "CLUBE DOS CINCO" tivessem crescido e fossem ganhar a vida em uma cidade grande. O filme é um drama sobre os relacionamentos e a falta deles. Com um super elenco e com atuações quase teatrais de tão perfeitas. Gosto de tudo no filme, de cada cena, de cada frame. O filme é um verdadeiro "tapa na cara". Prova que ninguém é grande demais que não possa aprender e nem pequeno demais que não possa ensinar. Destaque para a personagem da Natalie Portman. E uma das melhoreas obras a qual tive o prazer de assistir foi "A FELICIDADE NÃO SE COMPRA", do Frank Capra, sua mensagem é belissíma. É um filme de mais de 60 anos atrás, mas que sempre será atual por conta do tema que trata. Sem falar na trilogia "O PODEROSO CHEFÃO", mas se eu começar a falar dela não vou mais parar.

TB-Como um amante da sétima arte você já fez alguma loucura para assistir ou ter um filme?

JA- Pergunta interessante essa. Se ficar sem salário por ter comprado muitos filmes e seriados for considerada uma loucura então fiz. E sempre que quero ver um filme sempre vou atrás dele, seja lá qual seja o trabalho que dê ou tempo que dure. E como amante da sétima arte eu costumo acreditar que assistir um filme ruim, que você sabe que é ruim (ou péssimo), é uma grande loucura. Mas faço isso porque mesmo dos filmes ruins é possível se tirar alguma lição, algum aprendizado. Mesmo que seja a nunca mais ver filmes como esses novamente.

TB-Você é um dos membros do Cine Clube Mossoró. Qual o objetivo da entidade e como ela atua na sociedade?

JA- Fomentar a cultura entre quem for nos prestigiar e ver o(s) filme(s). E aprendemos bastante também com o público presente. A grande diferença entre um cineclube e um cinema ou um filme visto em casa é que em nenhum desses casos existe uma pré-conversa ou pós. É somente ver o filme. No nosso caso existe toda uma preparação, todo um ritual nos dias de exibição. Considero o debate que acontece após o filme mais importante que o próprio filme. Pois nos debates descobrimos quem amou ou odiou o filme. Apresentamos coisas que o público não conseguiu perceber durante o filme, ou mesmo eles nos passam essas particularidades. Os debates são fervorosos em alguns casos, e isso nenhum cinema jamais proporcionará ao espectador. Então assuntos que às vezes começam falando do sistema prisional brasileiro terminam nos conflitos do Oriente Médio. E isso, repito, somente os cineclubes e seus integrantes juntamente com o seu público que fazem com que essas calorosas conversas aconteçam.

TB-o Cine Clube está preparando alguma novidade para os mossoroenses neste novo ano?

JA-Infelizmete não. Como trabalhamos sem nenhuma ajuda de custo então fica difícil oferecer qualquer outro bônus, infelizmente. Quando conseguimos liberamos pipoca, refrigerante e sorteio de cópias do filme apresentado ou um outro qualquer. Mas tudo isso vem dos nossos próprios bolsos. Uma vez, há cerca de dois anos uma influente personalidade política nos prometeu (com direito a nota no jornal) ajuda, mas ficou só na base da promessa.

TB-Na sua visão a falta de um grande cinema em Mossoró pode gerar ou está gerando um enfraquecimento desse tipo de cultura na cidade?

JA- Não necessariamente. Se formos levar para o lado de que sem cinema a cidade perde um veículo a mais de atração noturna faz sentido. Mas se levarmos em consideração que a falta de cinema está gradualmente "matando" os espectadores de cinema eu já não concordo. A falta desse cinema está mesmo é quebrando o encanto, a magia de se ir a um cinema, mas não enfraquece ou prejudica o gosto pelo filme em si. Até porque os cinemas visam o lado comercial, então, pelo menos aqui em Mossoró, que de 15 anos para cá sempre teve apenas uma sala, nunca veremos grandes obras de grandes diretores, filmes de arte, filmes alternativos sendo exibidos. Serão sempre os filmes comerciais, e assim será no vindouro cinema que promete-se abrir no Mossoró West Shopping. E esses filmes comerciais são a salvação dos donos do cinema. Então é isso, a falta de um cinema prejudica a cidade, que perde um retiro cultural a mais, mas não prejudica o cinema em si.

Nenhum comentário:

Postar um comentário